domingo, 20 de junho de 2010

Beth Carvalho

"Se eu tivesse que inventar uma cantora, ela haveria (naturalmente) de ter uma voz muito bonita. Depois, eu a treinaria bastante para cantar bem, aprendendo os segredos da colocação da voz, das divisões, da respiração, da empostação, da naturalidade, essas coisas que se aprende na escola. Mais tarde, diria a ela que isso tudo não basta. Uma cantora não é um instrumento musical. É uma pessoa, um ser humano e é fundamental que isso fique claro quando canta. As emoções, a tristeza, a alegria, a depressão, a angústia, tudo isso que uma música popular propôe tem que ser transmitido na hora de cantar. Depende muito dela que a música não seja raspada de suas sensações quando é transmitida. E diria finalmente para cantar as coisas que vêm do povo. As músicas feitas pelos gênios do povo, impregnadas de talento e limpas das ambições comerciais e da neurose da novidade, tão próprias dos compositores de classe média. Sugeriria que ela servisse de ponte entre a cultura popular e o consumo, não deixando que o objetivo prejudicasse a origem. Teria que ser, portanto, uma cantora de muito talento. Beth Carvalho me poupou este trabalho. Ela já existe."

Sérgio Cabral

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